quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Axixá do Tocantins - Características da Decolagem, do Voo e do Resgate

Tendo desbravado e voado muitas rampas por este nosso Brasil, gostaria de falar um pouco de algumas condições mecânica e dinâmicas do voo em Axixá do Tocantins.


A rampa é bem ampla e com a combinação perfeita de área plana, área inclinada e áreas de escape lateral, fronta e na retaguarda. A rampa opera com segurança mesmo com vento forte e suporta ventos intensos vindos de SE, E e NE. Para contribuir ainda mais com os aspectos positivos da rampa de Axixá, a rampa tem 3 grandes frentes coletoras que concentram vento e também térmicas, o que favorece uma subida rápida e uma saída objetiva para o XC.




Em vôo, uma coisa que me surpreendeu foi a tranquilidade do voo. As térmicas batem acima de 4m/s praticamente desde o início do voo e mesmo assim, devido ao terreno bem regular e também à umidade atmosférica, as térmicas são intensas mas não abruptas. Em alguns momentos as térmicas são mais amplas e em outros mais restritas, mas o que se pode observar com regularidade é que, a baixa altura, se deve agarrar bem aos núcleos para não perder tempo e, com um pouco mais de altura, se pode explorar mais a área em busca de melhores pontos regulares de subida.

As transições rendem bem com vento forte e também com vento mais brando. Gostei muito das características durante as tiradas por pode acelerar meus 30% de eficiência sem precisar ficar corrigindo muito com os pés, apenas com os tirantes era o suficiente.

Outra coisa marcante que observei na prática, muito de acordo com o planejado via computadores, foi a disponibilidade de estradas para resgate. Até o 100km, não há roubada... incrível. Para chegar ao Araguaia, pulando por Araguatins-TO, existem umas 3 rotas de estrada de apoio de fácil acesso e mapeamento.
Após pular o rio Araguaia também existem umas 3 rotas de estradas levando até a Transamazônica, quando nos preparamos para chegar a Brejo Grande do Araguaia-PA. De Brejo Grande vamos evoluindo para E (leste) rumo à Belém-Brasília.
O legal durante todo o voo é que a rampa de Axixá do Tocantins tem uma repetidora para apoio ao piloto e também ao resgate em solo. Quando chegamos voando a Brejo Grande o motorista fica esperando na Transamazônica até que confirmemos o alcance à Belém-Brasília, próximo a São Domingos do Araguaia. Confirmado que é possível chegar à Belém-Brasília, o motorista não precisa andar em estradas de chão e segue pela Transamazônica até pegar a Belém-Brasília.

Infelizmente não consegui os resultados que buscava para a expedição, mas agradeço a todos os pilotos da região pela recepção, pela atenção e ao meu grande amigo Ney Sosthenes. Estou muito feliz por conhecer mais esta fantástica rampa e garanto que vou fazer grandes voos ai em breve. Axixá do Tocantins promete e certamente estará em breve na lista das rampas com voos acima dos 300km.

Expedição XC Axixá do Tocantins - Resumo Geral


No mês de agosto passado foi realizada em Axixá do Tocantins-TO a primeira expedição de XC para se desbravar o potencial de uma nova rampa de voo localizada na Serra do Estrondo. A expedição originalmente seria realizada em uma única etapa, mas por motivos pessoais tive que mudar a minha data de viagem e fiz uma 2a etapa separado dos pilotos que participaram da 1a.
O primeiro grupo de pilotos, composto por aproximadamente 6 pilotos, pôde fazer um belo trabalho inicial e, com dois voos acima de 100km, estabeleceram o recorde da rampa em 109km (piloto Raul voando duplo). Na 2a etapa eu estava somente com a parceria do meu anfitrião e patrôno do voo e da rampa de Axixá, Ney Sosthenes.





Início da subida a pé. São 15min de subida num rítimo atlético/preparado ou 25min num rítimo mais tranquilo com 3 paradas para descanso.


Os pilotos sobem sem carga alguma. É um modelo operacional da rampa que gera renda para os adolescentes da vila ao pé da serra. Achei bem justo o valor de remuneração, o que não permite qualquer margem para pensamentos levianos de exploração. São R$ 20,00 por subida com equipamentos e R$ 4,00 para a dobragem do parapente de quem pousa no pouso oficial, divididos por 2 garotos.



Primeira escadaria da subida. São 4 estruturas como esta que dão conforto e segurança durante a subida. A 1a é a mais cruel, o que já libera o sofrimento do restante da subida. A 2a é de dificuldade mediana, a 3a é bem light e a 4a (última) também de dificuldade mediana.


Infelizmente começamos a semana com dias ruins de voo e o vento inclinado em relação ao ideal para a  rota de voo planejada inicialmente. Todo planejamento foi feito com o vento tradicional na região, E (leste), e passamos toda semana desta 2a expedição com vento NE (nordeste).
Para a rota de voo, este vento era um complicador mediano, mas para a saída da rampa a complicação era um pouco maior. Toda a aerologia da área local da rampa foi alterada. A rampa se estende de Norte a Sul, com aproximadamente 5km de comprimento, fazendo uma face perfeita para E com algumas conchas concentradoras. Já com o vento NE ou NNE, por se tratar de uma rampa de menos de 300m, a saída não tinha suporte e se não achassemos uma condição logo na saída ficava difícil se segurar e aguardar novos ciclos. Para piorar um pouco, uma frente fria inesperada passou na região na 3a feira, subindo o Tocantins por Palmas e esparramando muita umidade na atmosfera.
Na 5a feira tivemos uma primeira janela interessante, apesar do vento NE ainda, e consegui decolar bem e sair bem para o voo. Voei sozinho, que é o meu padrão normal de voo, mas a condição no geral não permitia voar rápido. No 90km fiquei muito bem posicionado mas cometi um erro bobo motivado pela mudança de foco. Senti que podia usar o dia o máximo (nunca sabemos se teremos outra chance no XC... nunca) e buscar logo o recorde do estado, bastaria mais 60km e tinha mais de 2h de voo pela frente, mas isto me fez voar mais rápido que a condição permitia e acabei não fazendo nem o recorde da rampa. Cai com 107km e uma puta frustração nas costas... acontece, mas ainda não lido bem com erros bobos.



Visão do pouso oficial e parte do acesso e trilhas que levam à rampa. Ao fundo, à esquerda, a cidade de Axixá do Tocantins-TO.


Visão da rampa de Norte para Sul. Na parte inferior da foto, a ampla rampa de decolagem de Axixá.



Rio Araguaia. Chegando do Tocantins para atravessar para o Pará. À esquerda da foto, a ponte na rodovia Transamazônica ligando os estados de TO e PA.



No sábado consegui sair novamente para o voo, mas saí muito tarde. O dia amanheceu completamente encoberto e por uma camada muito espessa. Cheguei a achar que não valia a pena ir para a rampa e isso nos atrasou muito. Ao final, 98km e pouso meia hora antes de um CB desaguar geral.




Chegando à cidade de Araguatins, ponto onde atravessamos o rio Araguaia e pulamos do Tocantins para o estado do Pará.








No geral, avaliando o conjunto: Região Geográfica + Rampa + Incidência de Ventos, o que posso falar é que Axixá do Tocantins-TO será meu destino obrigatório na próxima temporada em busca de longos voos de distância.
A região é quente demais e consegue fazer a condição funcionar por volta das 9h da manhã, o que nos dá uma janela de mais de 8h de voo. O vento tradicional por lá passa dos 20km/h nos bons dias e é bem aproado com a rota de fácil resgate. Uma grande vantagem de Axixá do Tocantins sobre Jaraguá e Capitão Enéas, duas rampas que já explorei muito e conheço bem, é o fato de a decolagem ser muito segura e tolerante com ventos fortes sem riscos na saída. Isso é um mega diferencial.
Algo que me atrai ainda mais pela região é o fato de ser uma região inexplorada, com visuais únicos como a travessia do Rio Araguaia no 39km, o sobrevoo da tão famosa rodovia Transamazônica no 45km, a visão panorãmica do bico do papagaio (encontro dos rios Tocantins e Araguaia) no 85km e a travessia da também famosa rodovia Belém-Brasília no 100km.
Enfim, em 2016 volto com um planejamento melhor, mais dias de voo e certamente farei mais de 200km em Axixá do Tocantins-TO.
Experimente você também!!!